15 abril 2014

Jovem personalidade: A ilusória apaixonada


“Toda vez que toca o telefone eu penso que é você, toda noite de insônia eu penso em te escrever. Pra dizer que o teu silêncio me agride, e não me agrada ser um calendário do ano passado. Pra dizer que teu crime me cansa, e não compensa entrar na dança depois que a música parou.”
— 
Engenheiros do Hawaii.   





 


            Bem. Acredito que vocês de alguma maneira já devem me conhecer. Eu sei que me conhecem, ou ao menos já tiveram a oportunidade de ouvir meu nome. Me chamo Ester.

Não era para essa história ser triste. Na verdade, era para ser aquela história de contos de fada, ou ao menos contada em um bom livro “modinha” desses que todo mundo anda amando por ai. Devia ter sido uma história de amor, escrita #PraSempre (para sempre), entretanto, não foi.
As pessoas na maioria das vezes acreditam que amores são como brisas, vem e vão na mesma facilidade em que piscamos nosso olhos, mas eu, ahhhhh, eu, infelizmente faço parte daquele pequeno, quase extinto grupo que acredita que amores não podem ser escritos no plural, na verdade eles não tem plurais, é AMOR, um só, para a vida toda.
Para meu desgosto, eu encontrei o meu. Da forma mais bonita possível, ele floresceu, em meio a uma amizade tão sincera, tão ingênua, que havia sido cultivada há vários anos, alicerçada por carinho e confiança.
Até hoje me recordo do nosso primeiro beijo, da simplicidade de alguém que beijou um garoto pela primeira vez, e que em sequencia, saiu fugida porque a mãe dele havia nos dado um flagra. Foi engraçado, admito.
Me lembro de todas as nossas risadas, de todos as nossas lágrimas derramadas juntas. Me lembro de quando nos beijávamos escondidos na garagem da minha casa, em meio a um breu, e de como era engraçado ficar ali no escuro jurando amor eterno. Me lembro de todas as vezes que ele me levantou no colo (mesmo eu sendo gordinha) e me girou no ar, dizendo que princesas não tocam os pés no chão. Me lembro de todas as broncas que tomei por ser tão explosiva e sensível. Me lembro de quantas ligações trocávamos, de quantas mensagens cheias de poesias eram escritas, do tipo
Viajei por galáxias , espaços e mundos para tentar encontrar você, a única estrela capas de iluminar o meu céu. Te amo.”
Me lembro de quantas vezes ele me acudiu, me salvou de mim mesma, de todas as burradas, de todos os problemas que eu tinha, de só me deixar sentar no seu colo e chorar, enquanto ele acariciava meus cabelos. Me lembro de todos os jogos de cartas, das brincadeiras com seus irmãos, me lembro da viajem que fizemos juntos, de como foi especial, foi mágico, e  de como cuidava de mim. Me lembro do nosso Natal, de como seus joelhos dobrados na minha frente, ensopados por lágrimas, eram testemunhas do momento em que colocou uma aliança no meu dedo, de como ela era especial. Me lembro de tantas coisas. Me lembro.
Mas sabemos bem que um ser humano não vive de lembranças e no meu caso, nem de dioxigenio (O2), alguns deles vivem de amor, eis ai o meu caso, caso grave por sinal.
Essas lembranças tão perfeitas, tão sublimes, tão inimagináveis, agora, estão borradas por gotas de sangue, sangue este que jorra do meu coração.
Existe um ditado que diz que “o que é perfeito dura pouco”, e se eu pudesse, eu abraçava a pessoa que disse isso, pois ela estava tão certa, como o produto de 2+2 é sempre 4.
Queria que distâncias não existissem, pois foram elas que me separaram literalmente de Davi. O porquê de um fato até relativamente pequeno ter mexido tanto conosco se deu por uma palavra: PARIS. Ele teve que ir, tinha uma oportunidade de estudo ótima, e, convenhamos, era PARIS, a capital do bom gosto e da sofisticação. Entretanto, mesmo com tanta perfeição algo não encaixava na história, esse algo era eu, que fiquei, não podia ir, tinha raízes aqui, assuntos que não podiam ser deixados para depois e um medo enorme do desconhecido. Burrice ? Claro que sim.
Deixando-o ir, eu corria alguns riscos, (1) esquece-lo (jamais isso aconteceu), (2) entrar em depressão (nessa época ainda era forte), (3) ele perceber que eu não fazia falta (imaginem), (4) ser traída (isso me dói até hoje). Nunca tive confirmação, mas meu coração sente até hoje que a ele beijou outros lábios que não foram os meus naquela viajem, que enquanto chorava vendo-o pelo Skype, ele estava pensando em outro corpo que não fosse o meu.
Davi voltou, graças a Deus, ele voltou, e depois de tantos problemas, estivemos muito tempo bem. Foi nessa época que aconteceu o que eu jamais irei esquecer. O dia que enfim, nos entregamos um ao outro. Não entraria em detalhes de maneira alguma, ainda mais quando sabe-se que para muitos, sexo é uma palavra proibida, e eu, ah, eu já não sei mais de nada. A única coisa que posso dizer é que ainda sinto seu calor em meu corpo, ainda o sinto entre minhas próprias pernas. Foi mágico e real.
Mas o mágico, os contos de fada, a princesa e o príncipe, foram embora junto com o castelo que foi construído sobre a areia e desmoronou. Desde então o pesadelo começou.
Me dói demais saber que no ultimo dia de vida meu pai, ele ainda estava lá em casa jurando amor eterno e arrumando os preparativos para nosso casamento. Isso mesmo, iriamos nos casar, já estava preparando tudo.
Meu pai se foi, e duas semanas depois ele me deixou. Sem motivos, sem explicações, sem recados, logo ele que sempre disse que ia cuidar de mim, que falava a meus amigos que morriade medo de eu entrar em depressão, que iria ser meu alicerce. O alicerce foi embora, fugiu das responsabilidades feito uma criança que faz arte, ele não era mais HOMEM, deixou de ser MEU HOMEM.
Tanto tempo já passou, tantas águas já rolaram e eu continuo aqui, estagnada nas minhas próprias lembranças, não querendo acreditar que acabou, mesmo sabendo que o fim já veio há muito tempo.
O vejo reconstruindo sua vida sem mim e isso me dói tanto, o vejo crescendo em um emprego que eu o ajudei a conseguir, o vejo escrevendo bem os textos que eu escrevia, o vejo vivendo, vivendo sem mim.
Não dá mais, não consigo, me perdoem, mas minhas lágrimas andam afogando minha alma, que está vazia e repleta de escuridão. Meus pesadelos são constantes, e a solidão é minha única companhia. As lembranças me rodeiam, me perseguem, e o som da sua voz ainda é audível aos meus ouvidos. Ainda acordo com o gosto do seu beijo em minha boca. Não consigo mais, a tristeza me consumiu, pois pior que o ódio, só mesmo a indiferença, e esta, me consome dia-a-dia.


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