O desespero dela era notável.
Como você se sentiria se da noite
para o dia seu mundo desabasse e virasse de penar para o ar? Imagino sim, que o
caos seria inevitável.
Desnorteada, sentou-se na cadeira
de leitura de seu pai, e pela primeira vez, não se sentiu tão mal de estar ali,
pois sempre que via aquela velha cadeira, lembrava do dia em que seu velho pai
lhe contou a ultima história lida em um livro, e logo essa mesma história tinha
voltado a tona, muito pior do que qualquer livro já narrara.
De repente, como ironia do
destino, a vidraça de sua janela se estilhaça em inúmeros pedaços e Ane toma um
grande susto.
Mas, acredite, o susto foi muito
maior ao ver que o que quebrara a janela era uma pedra, não muito grande, porem
que cintilava cores ainda não vistas e que por algum motivo, transmitia uma
força, um poder, como um imã atraindo Ane para perto de si.
A curiosidade era óbvia, e agora,
nada mais poderia ser perdido. Já haviam ido embora seus pais que ela tanto
amara durante avida, sua melhor amiga
que cuidara dela por tantos anos e talvez, mas com grande certeza, o amor de
sua vida, que para “sua sorte” ainda estava brigado com ela na noite do
ocorrido.
Tocou a pedra. O poder atravessou
seu corpo de uma forma indescritível, era como se fosse um choque, mas muito
mais forte, denso e revitalizante.
Ao
abrir os olhos, se assustou novamente, mas dessa vez, foi muito pior.
- Olá Anellice. Muito prazer. Meu
nome é Bhogus. Não se assuste. Vim apenas te ajudar a encontrar nosso grande
amigo.
Nem ela acreditava como do nada,
um ser daquele jeito, alto, careca, extremamente esguio e muito magro, tinha “brotado”
em sua frente, e principalmente, com aquelas roupas???
- Minha querida, não temos tempo.
Cris corre grande perigo. Você precisa ser forte, o que irei te mostrar agora
pode não lhe agradar. Lembre-se: Só você poderá salvá-lo.
Abrindo um pergaminho, algo
irreal aconteceu. Mesmo sabendo que irrealidades agora seriam predominantes em
sua vida.
No pergaminho, Ane viu com seus
olhos, seres horripilantes, piores que qualquer ser infernal que ela poderia
ter imaginado ao ouvir pregações sobre o inferno na igreja em que frequentava,
ela viu seres muito mais grotescos que qualquer assombração que tivesse medo,
eles pareciam ter saído de Mordor, criados pelo próprio Sauron, em um dia que
ele estava inspirado.
Os cavaleiros infernais, estavam
em uma espécie de acampamento, em um local negro que cheirava a enxofre (ela conseguia sentir o cheiro), de
onde saiam gritos de desespero, gemidos inimagináveis e pedidos de socorro,
porém, em resposta, só se ouviam gargalhadas, quentes como a lava de um vulcão
e mais más que qualquer coisa.
No meio daquilo tudo, um garoto
chorava sem cessar, gritando de dor, pedindo clemencia, mas sem, em nenhum
momento, abaixar a cabeça e se colocar como vitima, era nítido, que ele
suportaria tudo aquilo por algum motivo.
De fato, esse garoto era Christopher,
e Ane sabia disso. O moletom azul que ele usava, com um tordo nas costas, era
um presente dela, para ele, no seu aniversário.
Foi então, que as cenas de tortura
começaram.
Primeiro, despiram Cris, e ele
ficou nu, e para Ane, isso se tornara muito vergonhoso, já que ela nunca havia
o isto assim. Entretanto, sua preocupação era muito maior.
Depois, o amarraram em uma
pilastra, e ele se manteve firme, sem um olhar para baixo.
Os cavaleiros então, o espancaram
com muita vontade, deixando-o desfigurado, muito machucado, quase desfalecido.
- Onde ela está? Nos diga. Não
adianta escondê-la garoto insolente, vamos acha-la de qualquer forma. Então,
adiante nosso trabalho. – disse um deles, zombando sem dó nem piedade.
- Não irei contar! Meu dever é
protegê-la, foi essa a missão que me incumbiram a 16 anos atrás, e eu nunca a
deixaria correr perigo. Eu a amo acima de tudo.
- Ouviram? O apaixonadinho a ama!
Se eu tivesse olhos, juro que choraria agora por você. Mas, como não tenho, só
me resta te torturar até enfim, saber onde está garota do ar. Desista! Ela será
nossa.
Nesse momento, muitos pensamentos
rodeavam a cabeça de Ane. “Cris realmente a amava?”, “Missão?”, “Garota do ar?”.
Mas, infelizmente, seus pensamentos foram interrompidos por um grito
assustador.
Nesse momento, Cris, quase
semi-morto estava prestes a sofrer uma grande perda.
O cavaleiro, sem demonstrar
nenhum sentimento a não ser satisfação, apontou para ele uma espada,
perguntando o que Cris preferia, seu corpo ou sua amada.
Cris não hesitou, dizendo que não
contaria onde Anellice estava, cuspindo no “rosto” ou o no que deveria estar
naquele lugar.
Em seguida, o cavaleiro das
almas, decepou um dos dedos de Cris, rindo ao ouvir o urro de dor do garoto.
Mesmo em estado de sofrimento,
Cris continuava a gritar que morreria por Ane se preciso, mas que jamais
entregara seu paradeiro.
Nesse momento, mais um dedo foi
decepado, e Cris já não tinha mais forças para se manter em pé, a hemorragia,
agora já se tornara uma imensa poça de sangue aos seus pés. O caso era preocupante.
- Tragam a água do Lago Säure,
quero ver se ele aguenta ser lavado e bem cuidado com as águas do lago ácido de
Arghonis.
***
O pergaminho se fechou nesse
momento e Ane queria morrer, morrer por Cris.
- O que vamos fazer Boghus? Cris
irá morrer em breve, e eu não sei como ajuda-lo.
- Minha querida, estamos em jogo
de xadrez, e eu irei a partir de agora, te ajudar a dar o Xeque-mate!