16 janeiro 2015

Despedidas

Você já parou para perceber como as pessoas dão mais importância para as suas primeiras vezes?
            É o primeiro passo, a primeira palavra, o primeiro beijo, a primeira vez que faz sexo e tantas outras, sempre aclamadas por todos, e motivo sempre frequente de medo daqueles que ainda não experimentaram tais momentos.
            A questão é que, de tanto se dar valor as primeiras vezes, geralmente, nos esquecemos do outro lado da moeda, da ultimas vezes, e até mesmo das despedidas.
            Sim, a ultima vez que você tomou aquele xarope horrível, ou que abraçou a sua avó que já se foi, a ultima vez que viajou àquela cidade linda nas férias, ou a ultima vez que beijou o amor da sua vida.
            Eu particularmente, hoje em dia, dou mais valor às despedidas. São elas que ficam de verdade na nossa memória, são elas que muitas das vezes dão aquele nó na garganta, que nos fazem chorar, são elas que causam remorso, são elas que nos fazem sorrir do nada, são elas, as despedidas.
            “A primeira vez, a gente nunca esquece!”, já dizia o ditado popular, e sou obrigada a concordar com isso, já que é a primeira oportunidade de experimentar uma determinada sensação. Mas e quando não nos lembramos?
            Eu confesso que não me lembro dos meus primeiros passos e nem da minha primeira palavra, mas me lembro perfeitamente do tempo que passei sem andar com um gesso na minha perna, ou do dia em que deveria ter dito eu te amo pela ultima vez e não disse.
            Para ser sincera, são as despedidas que mexem comigo.
            Como somos capazes de não nos lembrarmos no nosso mais intenso, verdadeiro e suntuoso amor? Como não se lembrar dos beijos, dos abraços, das caricias, das palavras ditas? Como não se lembrar do adeus.
            O adeus de uma relação sempre foi difícil para mim. Eu nunca gostei de abandonar um amigo, de aceitar a morte de um ente querido, de desistir de um amor.
            Ahhh, as paixões. Arrebatadoras, intensas, cruéis. Elas são o maior motivo das dores, das despedidas, pois geralmente, uma parte sempre sai ferida nessa guerra em busca da felicidade.
            Sempre existirá alguém que se culpará pela perda, por não ter feito as coisas direito, por não ter tido a chance de lutar.
            As paixões, como são capazes de massacrar-nos tão facilmente. Sempre da mesma maneira. Você está bem, e, ao acaso, o cupido te acerta como uma flecha de um veneno fulminante, altamente tóxico, certamente, ele seria até proibido se pudesse ser comercializado, esse veneno, o amor. Depois, dois seres, independente de gênero, cor e cultura, se entrelaçam numa dança sinuosa, cheia de passos ardentes, conquistas, momentos solos e em conjunto, praticamente um tango incandescente dançado para uma plateia chamado mundo.
            Na maioria das vezes, a dança não durará mais que uma noite, os bailarinos se cansam, se separam, e cada um vai para seu lado, enfrentam as dores carregadas pelo grande balé sozinhos.

            Por isso dou tanta importância às despedidas, pois não são as caricias que ficam, e sim as cicatrizes, as feridas, e principalmente as lembranças, de momentos que jamais serão vividos novamente, pois uma peça em que se mudam os atores será somente uma nova peça.