Você já parou para perceber como as pessoas dão mais importância para as suas
primeiras vezes?
É o primeiro passo, a primeira
palavra, o primeiro beijo, a primeira vez que faz sexo e tantas outras, sempre
aclamadas por todos, e motivo sempre frequente de medo daqueles que ainda não
experimentaram tais momentos.
A questão é que, de tanto se dar
valor as primeiras vezes, geralmente, nos esquecemos do outro lado da moeda, da
ultimas vezes, e até mesmo das despedidas.
Sim, a ultima vez que você tomou
aquele xarope horrível, ou que abraçou a sua avó que já se foi, a ultima vez
que viajou àquela cidade linda nas férias, ou a ultima vez que beijou o amor da
sua vida.
Eu particularmente, hoje em dia, dou
mais valor às despedidas. São elas que ficam de verdade na nossa memória, são
elas que muitas das vezes dão aquele nó na garganta, que nos fazem chorar, são
elas que causam remorso, são elas que nos fazem sorrir do nada, são elas, as
despedidas.
“A primeira vez, a gente nunca
esquece!”, já dizia o ditado popular, e sou obrigada a concordar com isso, já
que é a primeira oportunidade de experimentar uma determinada sensação. Mas e
quando não nos lembramos?
Eu confesso que não me lembro dos
meus primeiros passos e nem da minha primeira palavra, mas me lembro perfeitamente
do tempo que passei sem andar com um gesso na minha perna, ou do dia em que
deveria ter dito eu te amo pela ultima vez e não disse.
Para ser sincera, são as despedidas
que mexem comigo.
Como somos capazes de não nos
lembrarmos no nosso mais intenso, verdadeiro e suntuoso amor? Como não se
lembrar dos beijos, dos abraços, das caricias, das palavras ditas? Como não se
lembrar do adeus.
O adeus de uma relação sempre foi
difícil para mim. Eu nunca gostei de abandonar um amigo, de aceitar a morte de
um ente querido, de desistir de um amor.
Ahhh, as paixões. Arrebatadoras,
intensas, cruéis. Elas são o maior motivo das dores, das despedidas, pois
geralmente, uma parte sempre sai ferida nessa guerra em busca da felicidade.
Sempre existirá alguém que se
culpará pela perda, por não ter feito as coisas direito, por não ter tido a
chance de lutar.
As paixões, como são capazes de
massacrar-nos tão facilmente. Sempre da mesma maneira. Você está bem, e, ao
acaso, o cupido te acerta como uma flecha de um veneno fulminante, altamente
tóxico, certamente, ele seria até proibido se pudesse ser comercializado, esse
veneno, o amor. Depois, dois seres, independente de gênero, cor e cultura, se
entrelaçam numa dança sinuosa, cheia de passos ardentes, conquistas, momentos
solos e em conjunto, praticamente um tango incandescente dançado para uma
plateia chamado mundo.
Na maioria das vezes, a dança não
durará mais que uma noite, os bailarinos se cansam, se separam, e cada um vai para
seu lado, enfrentam as dores carregadas pelo grande balé sozinhos.
Por isso dou tanta importância às
despedidas, pois não são as caricias que ficam, e sim as cicatrizes, as
feridas, e principalmente as lembranças, de momentos que jamais serão vividos
novamente, pois uma peça em que se mudam os atores será somente uma nova peça.